terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Vida Religiosa na Alegria do Evangelho

Ir. Afonso Murad

“Levanta-te e come, levanta-te e come!
Que o caminho é longo, caminho é longo”.

Deus nos surpreende! Por vezes, estamos desanimados, cansados de lutar, e quando menos esperamos, recebemos palavras estimuladoras e gestos de alento. Então, sentimo-nos revigorados, como o profeta Elias. Alimentamo-nos, descansamos e partimos para a missão, renovados, percorrendo o caminho fascinante e sinuoso, ao encontro de Deus (1 Re 19,4-8).

Estimulante surpresa
Homens e mulheres, que há anos se empenhavam para que o Evangelho se encarnasse no ritmo da existência dos povos, que a Igreja fosse mais servidora e flexível, encontraram na Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium) um porto seguro e feliz, no qual ancoraram, se reconheceram e ganharam forças.
O documento recolhe as contribuições do Sínodo dos Bispos de 2012 sobre a Nova Evangelização e dá orientações concretas para a Ação Evangelizadora. Papa Francisco não tem a pretensão de proferir uma palavra definitiva ou completa (EG 16), mas sim deseja iluminar e abrir caminhos para a Igreja nos próximos anos (EG 1). Ele acredita na descentralização do poder na Igreja e na participação ativa de bispos, padres, religiosos, leigos e leigas (EG 16).  “Alegria do Evangelho”, fruto de elaboração coletiva com o claro posicionamento de Francisco, visa estimular processos de reflexão, discussão e novas práticas, que compete aos cristãos e às suas comunidades, em diferentes níveis. Propõe algumas diretrizes para encorajar e orientar, em toda a Igreja, uma nova etapa evangelizadora (EG 17), cheia de ardor e dinamismo, com base na Lumen Gentium, do Vaticano II. Eis o forte apelo:
Sejam ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das suas comunidades. Uma identificação dos fins, sem a busca comunitária dos meios para alcança-los, está condenada à mera fantasia. Apliquem, com generosidade e coragem, as orientações deste documento, sem impedimentos nem receios (EV 33).

O discurso de Francisco é coerente com sua postura de Igreja-comunidade. Ele renuncia a tratar detalhadamente de várias questões que devem ser objeto de estudo e aprofundamento, principalmente nas Igrejas locais (EG 16). No correr da Evangelii Gaudium, valoriza e incorpora a contribuição das Conferências Episcopais de várias regiões do mundo. Nas últimas décadas, documentos papais citavam preferentemente outros Papas ou o próprio pontífice. Tal procedimento era acompanhado por certa pressão sobre as Conferências Episcopais e regionais que deveriam, cada vez mais, citar e reproduzir as palavras do Papa e seguir as orientações da cúria romana. Com isso se retirava das Igrejas locais a responsabilidade de interpretar o Evangelho e encarnar a mensagem em diferentes contextos. Elas se tornavam meras repetidoras da autoridade centralizada. A mesma pressão se fez sentir sobre as Conferências de Religiosos/as em várias partes do mundo.

No nosso continente, nas décadas de 1980 e 1990 a CLAR foi acusada, injustamente, de criar um “magistério paralelo”, porque rejeitava a infantilizadora determinação de ser meros repetidora do pensamento romano. Dizia-se que a VR feria a comunhão. Ora, desde quando fornecer critérios de interpretação e sugerir processos comunitários para interpretar a Palavra de Deus fere a comunhão eclesial? Aqueles e aquelas que sofreram dura perseguição nos anos passados, porque levaram a sério a tarefa de renovar a Igreja no espírito do Concílio, encontram nas palavras do Papa Francisco consolo e força: “Valeu a pena lutar. Finalmente somos reconhecidos!”

A exortação de Francisco traz ar fresco e revigorante a toda a Igreja: leigos/as, presbíteros, os consagrados/as, suas comunidades e Institutos. Como os fatos e as palavras rapidamente escapam do nosso horizonte, é preciso voltar aos seus temas essenciais, para que os apelos do Espírito ressoem e encontrem eco nas pessoas, nas comunidades e nas instituições. A teoria da comunicação tem ressaltado que o ciclo comunicativo somente se realiza quando há recepção e expressão dos interlocutores. Não basta que a mensagem seja transmitida. Ela deve ser acolhida, interpretada, vivida, reelaborada e comunicada.

Esse artigo colabora no movimento de recepção da mensagem do Papa Francisco para a Vida Religiosa, em “A alegria do Evangelho”. Ele se soma a outros já escritos ou por escrever. Seleciona alguns textos que parecem mais significativos ao autor, que, a partir daí, tece algumas reflexões e provocações. Concentra-se na introdução geral e na primeira parte da Exortação, que convoca a todos para empreenderem um deslocamento da “Igreja em saída”. Espera-se assim oferecer um material de reflexão e discussão para as pessoas e as comunidades, especialmente por ocasião do “Ano da Vida Consagrada”, proposta também pelo papa Francisco. Desenvolver-se-ão aqui dois pontos: alegria e leveza, e atitudes básicas dos discípulos/as missionários na Igreja “em saída”.

Antes de mais nada, Francisco relembra a todos os cristãos (e também ao religiosos/as, claro) que nossa vida e missão se radica em Jesus. O processo de renovação da Igreja é uma volta a Jesus, ao mesmo tempo voltando-se para o mundo. Eis o tesouro, o segredo simples e belo, expresso de forma breve no início da Gaudium et Spes: as alegrias e tristezas, esperanças e dúvidas da humanidade ressoam no coração dos discípulos de Cristo (GS 1). Ou de forma breve no lema do I Congresso Internacional da Vida Consagrada, em 2004: “paixão por Cristo, paixão pela humanidade”.
Cada vez que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual (EG 11).

Alegria e leveza
 Certa vez, em Encontro de Novas Gerações, Luiza, jovem juniorista, desabafou:
“Pra mim, a coisa mais difícil na Vida Religiosa é a tristeza. Na minha comunidade, não temos espaço para rir, dar gargalhadas, falar alto. Tudo é muito sério. Funciona como uma máquina. Sair do horário, nem pensar. Eu chego da Faculdade quase meia noite, e já estou na oração às 5h30 da manhã, para recitar fórmulas. Não sei até quando vou aguentar”.
Quem conhece um pouco as congregações religiosas, sabe que a afirmação dessa jovem consagrada não é exagerada. Faz alguns anos, na Assembleia Geral da CRB (Conferência dos Religiosos/as do Brasil), o tema da Leveza se destacou, a ponto de constituir uma das linhas de ação de Vida Religiosa no triênio. Constatou-se que a rigidez marcava as relações interpessoais e a postura de vida de pessoas, em comunidades e Institutos. O tema da Leveza suscitou interesse, despertou para a reflexão, a partilha e o desenvolvimento de novas atitudes.

Para qualquer pessoa madura, a vida adulta inclui cargas e pesos, dificuldades, responsabilidades e compromissos. Portanto, leveza não é sinônimo de visão ingênua e adolescente, que nega este componente inevitável da vida. De outro lado, todo ser humano equilibrado e feliz tem o seu lado de leveza: gratuidade, fruição, flexibilidade, contentamento. Tanto a nível pessoal, quanto comunitário e institucional, a Vida Religiosa talvez tenha cultivado demais “um lado da balança”. O resultado é visível: pessoas pesadas e pessimistas. Instituições aferradas no passado, com medo de avançar e sair de sua “zona de conforto”.

Abordar o tema da leveza na Vida Religiosa é importante para ajudar a perceber aquilo que nos engessa. E responder com alegria, disponibilidade e agilidade aos apelos de Deus nos dias de hoje! A exortação do Papa Francisco atualiza o tema da “Leveza e agilidade”, que para ele se expressam principalmente como “alegria, conversão pastoral e saída”.
Francisco aponta também outra causa da tristeza, que já não é mais a do excesso de trabalho e de certa rigidez, que caracterizava as gerações antigas. Desta vez, provém da tendência egocêntrica e individualista da cultura moderna.

O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem (EG 2)

A alegria não se traduz necessariamente em rir sempre e gozar de um constante estado de espírito marcado pela euforia. Nos momentos duros, difíceis, todo ser humano tem o direito de se entristecer. Diante de perdas extremas, com a morte, é necessário o tempo de luto. Mas isso é diferente daquele(a) que vive em constante tristeza, “em estado de quaresma sem páscoa”, como diz Francisco.
A alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados. Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias (EG 6).

Cada um/a de nós é chamado/a  a cultivar esta atitude de alegria e leveza, que nos fazem felizes, “de bem com a vida”.  E assim transparecemos a alegria de Deus, que nos ama incondicionalmente. O cultivo da leveza, da alegria e da itinerância, nos liberta para a ousadia do Reino. Existem estreitos laços entre espiritualidade, alegria e missão.
Do ponto de vista teológico e pastoral, Francisco nos fornece duas importantes chaves de leitura: “A alegria do Evangelho é missionária” e “a intimidade com Jesus, itinerante”. Com isso, supera-se uma visão intimista e meramente subjetiva da fé e da experiência religiosa. Nos evangelhos se relata que os 72 discípulos voltam da missão que o Senhor lhes confiou, cheios de alegria (cf. Lc 10, 17). O próprio Jesus exulta de alegria no Espírito Santo e louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e aos pequeninos (cf. Lc 10, 21). Também acontece assim com os primeiros que se convertem no Pentecostes, ao ouvir “cada um na sua própria língua” (At 2, 6) a pregação dos Apóstolos. Esta alegria é sinal de que o Evangelho foi anunciado e está frutificando (EG 21).

A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão é missionária. Fiel ao Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém (EG 23)

Talvez um dos grandes entraves na Vida Religiosa consista em não colocar em prática, já na formação inicial, estes dois princípios, da alegria missionária e da intimidade (com Jesus) itinerante. É certo que nessa etapa se faz necessário cultivar o autoconhecimento, o acompanhamento pessoal, o espírito de família, a internalização das atitudes, os compromissos comunitários, a limpeza e conservação da casa, a espiritualidade, os momentos de oração e o estudo. Mas é notório que padecemos de um desequilíbrio. Especialmente nos institutos masculinos. Certa vez, num curso para formadores, perguntou-se como se organizava a típica semana dos postulantes. Frei Carlos respondeu:
“Durante a semana, de manhã eles estudam filosofia na Faculdade. De tarde, limpam a casa e fazem esporte. Algumas vezes na semana, temos aulas de formação sobre a doutrina cristã, o fundador e a congregação. De noite, é tempo pessoal. E no final de semana, nos sábado à tarde e no domingo de manhã, um pouco de pastoral. Afinal, temos que evitar os exageros!”.


 A ilusão das equipes de Formação (e dos/as provinciais) consiste em crer que se forma para a missão deixando os jovens praticamente todo o tempo em casa, com atividades internas. Ora, reflexões pedagógicas atuais sustentam que aprendizagens significativas se constituem a partir de experiências, vividas intensamente, refletidas e explicitadas. A teoria serve para explicar, organizar, compreender, relacionar, conceituar, aperfeiçoar. Já na formação inicial os jovens (e seus/suas formadores) necessitam experimentar a alegria missionária e a intimidade itinerante com Jesus. Caso contrário, buscarão sua alegria em outros lugares. Em vez da fonte de água viva, se refugiarão em cisternas rachadas que não retém a água! (Jer 2,13; Jo 7,37-38)

1ª parte do artigo Alegria itinerante de discípulos/as missionários/as. 
Atitudes da Vida Religiosa “em saída” publicado na Revista "Convergência", novembro de 2014. Veja a continuação na postagem anterior. 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

As atitudes do discípulo/a missionário/a na Vida Religiosa

A 5ª Conferência do Episcopado latino-americano e caribenho, em Aparecida, gestou um iluminador documento final. Junto com os bispos estiveram presentes representantes da Vida Religiosa, de movimentos e pastorais, de leigos e de presbíteros. Embora num momento pouco propício a mudanças, o documento de Aparecida significou um avanço para a prática pastoral da Igreja. A expressão “discípulos e missionários” foi assumida em perspectiva dinâmica e interdependente (DAp 10, 11,14,23,31..). Cada seguidor(a) de Jesus, como também a comunidade eclesial, vive em permanente movimento de aprender (com o mestre, com os outros e  com a realidade), de testemunhar e de ensinar.

Esta bandeira do discipulado e da missão já estava presente, desde os inícios, nas práticas da chamada “Igreja dos pobres”, da Teologia da Libertação, e na Vida Religiosa, sobretudo com as comunidades inseridas. Inspirada no Evangelho e se apoiando na pedagogia libertadora de Paulo Freire, construiu-se no continente uma metodologia evangelizadora que busca estabelecer relações fraternas e sororais. Uma Igreja-comunidade, a serviço da Boa-Nova e da mudança da sociedade. Papa Francisco, que na ocasião da Conferência de Aparecida presidia a comissão de redação, universalizou a expressão “discípulos missionários” na sua Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho” (EG 120, 173). Tornou-a um patrimônio de toda a Igreja.

A Igreja em saída é a comunidade de discípulos-missionários que apresenta cinco atitudes básicas: tomar a iniciativa (aprimeirar-se, ir na frente), Envolver-se, Acompanhar, Frutificar e Festejar (EG 24). Vejamos o que caracteriza cada uma destas atitudes e o que elas tem a dizer especialmente para os Religiosos/as.

Ir na frente (aprimeirar-se)
A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (1 Jo 4, 10). Por isso, ela vai à frente, vem ao encontro, procura os afastados e chega às encruzilhadas dos caminhos para convidar os que estão à margem (EG 24).
Basta percorrer a história dos 17 séculos da Vida Consagrada para perceber com esta postura de sair na frente, romper fronteira, abrir caminhos, faz parte de sua história. Monges evangelizaram povos considerados “bárbaros”. Consagrados iniciaram processos de evangelização na Ásia, na África, nas Américas e na Oceania. Foram pioneiros na missão “Ad Gentes”. Promoveram iniciativas inovadoras de diálogo com a cultura letrada e popular. Abriram escolas e instituições de Ensino Superior. Criaram espaços e instituições para acolher órfãos, jovens em situação de risco e idosos abandonados. Aprimeiram-se na evangelização dos povos indígenas. Promoveram o diálogo intercultural em vista da evangelização. Atuaram junto à população migrante. Abriram hospitais. Acolheram mulheres em situação de prostituição. Assumiram a evangelização na mídia escrita e o rádio.

Tudo isso faz parte do “passado glorioso” da Vida Religiosa. Não somente. Nos últimos 50 anos, as comunidades religiosas também saíram na frente em várias iniciativas pastorais e sociais. Foram para as periferias. Formaram lideranças leigas nas CEBs, nas pastorais sociais, na catequese e na Pastoral de Juventude. Investiram no protagonismo dos leigos e dos pobres. Promoveram iniciativas intercongregacionais, como os Institutos de Pastoral de Juventude. Participaram no movimento popular em defesa da terra, na roça e na cidade. Difundiram as causas étnicas, sociais e ambientais. Promoveram a educação libertadora em suas escolas, enfrentando duras resistências. Ajudaram na renovação da Igreja, atuando na animação paroquial, e como agentes e coordenadores(as) de pastoral em vários âmbitos.

Nos últimos anos, parece que este vigor de “ir na frente” se arrefeceu, devido a várias causas, internas e externas. O envelhecimento e a falta de novas vocações provocou um movimento de “voltar-se para dentro”. Fecharam-se as iniciativas mais ousadas nas periferias, e concentrou-se o pessoal na gestão das obras tradicionais (escolas, hospitais, paróquias), além da animação e governo da própria instituição. Congregações de Irmãos e Irmãs que trabalhavam na pastoral de comunidades populares, paróquias e dioceses, tiveram seu espaço de atuação drasticamente reduzido, com o crescimento do clericalismo, concentração do poder na mão do padre, movimentos de leigos, grupos pentecostais católicos e novas comunidades. Um grupo significativo de “meia idade” assumiu o poder nas congregações, trazendo consigo alguns traços da modernidade burguesa: vida cômoda, padrão de vida elevado, consumo, visibilidade midiática... O resultado é desconcertante. Enquanto as novas comunidades saem na frente, apesar de opção eclesiológica questionável e outros tantos problemas; vários Institutos religiosos voltam para trás, em busca de segurança.

De outro lado, algumas minorias na Vida Religiosa continuaram a “aprimeirar-se” no serviço evangelizador, na promoção social e na libertação dos pobres. Por vezes, sem receber sequer o apoio e o reconhecimento de seus coirmãos e coirmãs. Podemos citar, entre outros: a pastoral com drogados e tóxico-dependentes, as redes contra o tráfico humano, os grupos de apoio aos migrantes, as iniciativas com jovens em situação de vulnerabilidade social, a missão ad gentes em regiões pobres e abandonadas, no país e no exterior, os diversos empreendimentos de voluntariado, a implantação e implementação de projetos sócio-ambientais. Tais atitudes e práticas, de grande generosidade e ousadia, necessitam ser acolhidas, reconhecidas e promovidas pelos institutos. Isso se faz envolvendo cada vez as novas gerações de consagrados/as, e os leigos e leigas que compartilham nossa espiritualidade e missão. Talvez seja este o grande apelo de Deus no momento, que Francisco acolheu e proclamou com tanto vigor. A “Igreja em saída” só se realiza quando pessoas, comunidades e instituições rompem o estabelecido, arriscam, se lançam.

Envolver-se
Com obras e gestos, os evangelizadores entram na vida diária dos outros, encurtam as distâncias, abaixam-se e assumem a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Contraem assim o “cheiro das ovelhas”, e estas escutam a sua voz (EG 24).

Durante vários séculos, até o Concílio Vaticano II, a Vida Religiosa foi compreendida principalmente como um “estado de perfeição”. O ideal da santidade estava delineado com um claro distanciamento em relação ao mundo, entendido em sentido negativo, quase como sinônimo de “mundano”. Neste caso, o religioso(a) devia se envolver o mínimo possível com as pessoas, especialmente com as de outro sexo. É certo que toda opção de vida implica renunciar a certos tipos de convivência e resguardar-se para não se desviar. Mas o pêndulo deslocou-se demais para o lado do isolamento. Ele trouxe consigo a auto-suficiência, um orgulho disfarçado, o sentimento de que éramos melhores e mais perfeitos do que os leigos/as. O mesmo se deu no ministério ordenado. Apesar dessa separação, muitos consagrados(as) se notabilizaram pela proximidade junto aos fragilizados de todo tipo, como órfãos, leprosos, miseráveis, doentes, deficientes mentais, anciãos abandonados. Eles e elas “tocaram a carne sofredora de Cristo no povo”. Contraíram o cheiro da ovelhas.

A grande virada da “Igreja dos pobres” na América Latina consistiu na descoberta de que os empobrecidos eram pessoas com sabedoria, capazes de serem protagonistas de um processo de libertação comunitário e estrutural. A presença de religiosas/as junto dos pobres, a começar pelo deslocamento do local de moradia, enriqueceu enormemente a espiritualidade e trouxe perguntas novas. Aprender do povo, estar ao lado dele, ser um sinal de esperança. A Vida Religiosa fez-se aprendiz, discípula.

Certa vez, uma congregação de Irmãos educadores decidiu abriu uma comunidade na região do semiárido. Os religiosos não teriam escolas, nem obras. O provincial buscou o Irmão João, que durante toda a vida havia atuado somente como professor em colégios, e na formação inicial. Ao receber o convite, o Irmão se assustou: “O que vou fazer lá?”. Anos depois, ele testemunhou o significado da experiência junto do povo:
Eu descobri que o mundo é maior do que o muro da escola. Cada dia aprendo com o povo: sua religiosidade, a alegria, o desprendimento, os gestos de solidariedade.  Aprendi a entrar nas casas, sentar no banquinho da cozinha, tomar café, escutar as pessoas, ouvir os “causos”, dar conselhos. Eu me achava tão piedoso (risos). Mas o povo reza mais do que eu, tem uma fé mais intensa. Ah! Como é bom.

A crise atual da Vida Religiosa e as exigência de eficácia da sociedade moderna tem “empurrado” várias congregações a destinar boa parte de seu pessoal para tarefas de gestão das obras. Se é fruto de discernimento bem realizado, tal opção se mostra legítima. Mas carrega um grave risco, que toca o coração do discípulo/a missionário/a. À medida que adentram em cargos executivos, especialmente em instituições ricas e famosas, os consagrados se tornam fundamentalmente gestores. E, naturalmente, em ambientes marcados pela lógica trabalhista, o gestor/a necessita manter certa distância formal, profissional, em relação aos seus colaboradores. Com o passar do tempo, ele/a esquece o mundo dos pobres, dos sofredores, dos últimos. Longe dos olhos, longe do coração! Ou como se diz na Teologia da Libertação: “o lugar social condiciona o lugar hermenêutico”. Talvez o rodízio dos cargos de poder e a imersão em tempos intensos junto dos pobres possa minimizar este problema.

Acompanhar
A comunidade evangelizadora acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece e suporta as longas esperas. A evangelização exige muita paciência, e evita deter-se nas limitações (EG 24).

“Acompanhamento” tornou-se uma palavra usual na Vida Religiosa. Nos planos de Pastoral Vocacional e Formação Inicial insiste-se que o acompanhamento é tarefa básica e irrenunciável. Conjugam-se, cada vez mais, elementos psicológicos e existenciais com a caminhada de fé, para acompanhar as pessoas. Pede-se que o(a) provincial ou coordenador(a) geral acompanhe seus irmãos e irmãs, através de visitas, entrevistas e outros procedimentos. Ao coordenador/a da comunidade também compete esta tarefa, embora no âmbito mais operacional. Quem exerce o múnus do acompanhamento, sabe bem como alguns processos de crescimento são “duros e demorados” e o que significa “conhecer e suportar as longas esperas”, de que fala o Papa Francisco. Mais ainda. Para acompanhar com eficácia, por vezes não basta a versão pessoal do acompanhado. Ele/a pode, durante anos, mascarar suas atitudes e não demonstrar as reais motivações que o movem.

Há também o acompanhamento de processos pastorais, educativos e institucionais. Eles exigem, cada vez mais, competência na sua área de atuação, conhecimento teórico e prático, visão estratégica  e informações necessárias para tomada de decisões. Sem falar de uma equipe de pessoas com habilidades diferentes e complementares. Acompanhamento de processos implica muitas coisas, como planejar bem, distribuir tarefas, realizar atividades, monitorar quem executa, avaliar e reprogramar.

Os dois extremos do acompanhamento deficiente residem na postura autoritária que sufoca a iniciativa do grupo de trabalho, ou na falta de controle, que deixa cada um fazer o que quer. Um leigo/a ou religioso/a que assumem funções de gestão e liderança aprendem a acompanhar, com acertos e erros. Descobrem a medida adequada para monitorar, a fim de que as pessoas não se dispersem, percam o foco e ou se limitem a repetir o que sempre fizeram. Ao acompanhar, o/a líder estimula, apóia, sugere, ensina, aprende, espera e se for o caso, corrige.

No entanto, Papa Francisco vai mais longe na sua reflexão. Ele se refere a “uma comunidade”, que é mais do que um indivíduo. Trata-se de um grupo de pessoas, reunidas a partir do chamado de Jesus, que atuam de forma conjunta, superando os modelos piramidais e fortemente hierarquizados.
Essa comunidade acompanha não somente seus membros e os processos internos, e sim a humanidade. Parece algo tão longínquo e abstrato! Mas quem se engaja em grandes causas da humanidade, compreende bem o que é isso. O horizonte de esperança e de preocupações supera as fronteiras de sua instituição e da Igreja. Como se diz no movimento ambiental, a gente atua em nível local, mas com a consciência global. A realidade não é compreendida a partir de estatísticas, de números frios. Sentimo-nos conectados com uma ciranda quase infinita de homens e mulheres que formam a corrente do Bem. Seguimos atentos. Celebramos as vitórias, sofremos com eles/as os revezes. Oramos por pessoas, grupos e organizações. Efetivamente fazemos parte de múltiplas redes que tecem esperanças e projetos humanizadores (EG 87).

Frutificar e festejar
O missionário/a mantém-se atento aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. Encontra o modo para que a Palavra se encarne na situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de imperfeitos (EG 24).

O Evangelho valoriza os resultados, não somente as intenções. Na parábola dos diferentes tipos de solo que acolhem a palavra de Jesus, dá-se importância à terra boa, na qual a semente brota e dá fruto, em grande proporção, de cem por um (Lc 8,8). E na explicação da parábola, se diz: “o que caiu em terra boa são aqueles que, ouvindo de coração bom e generoso, guardam a palavra e dão fruto na perseverança (Lc 8,15)”. Para que os resultados apareçam, é necessário muito trabalho, paciência e perseverança. Mais. Na visão de Francisco, são “frutos de vida nova, apesar de imperfeitos”, que resultam de um processo de encarnação, de “estar com” as pessoas e os grupos, e não “sobre elas”.

Vivemos numa sociedade que valoriza os resultados e abomina a ineficácia. Por isso, as organizações estabelecem planos estratégicos, após uma acurada leitura de cenário interno e externo. Elaboram-se objetivos, metas e indicadores. Tudo isso é bom, se imbuído de um direcionamento humanizador. Os mecanismos de eficácia são uma arma poderosa, que serve a quem a tem na mão. Como qualquer realidade humana, carrega consigo a ambiguidade. Seu limite reside na tendência de transformar os meios em fins próprios. Dito de maneira simples: busca-se o sucesso pelo sucesso, a conquista de crescente por espaços de poder porque isso incha os egos e fortalece o orgulho e autossuficiência institucional (EG 80). O imediatismo e a superficialidade leva a uma intolerância diante das contradições, do aparente fracasso, das críticas, da cruz (EG 82).

Os/as religiosos/as, suas comunidades e organizações estão aprendendo a superar o amadorismo, a visão ingênua e simplista, e começam a adotar mecanismos para aumentar os resultados positivos de seus empreendimentos pastorais, sociais, educativos e profissionais. Devem fazer isso sempre com reserva profética. Propor alternativas iluminadoras para a humanidade significa, muitas vezes, pagar o preço da incompreensão, da perseguição e até de alguns fracassos. Assim aconteceu com Jesus, e assim também sucede com seus discípulos-missionários. A lógica evangélica dos frutos comporta resultados positivos, mas não se confunde com o sucesso a qualquer custo. Especialmente se esse está contaminado pela vaidade e a auto-suficiência.

Por fim, Francisco completa a lista das atitudes básicas da comunidade de discípulos missionários com o festejar.
Os evangelizadores, cheios de alegria, sabem sempre festejar: celebram cada pequena vitória, cada passo dado. E se alimentam da liturgia (EG 24).
Saber festejar é uma característica de quem tem coração de criança. A pessoa encanta-se com os pequenos passos dados, ri das coisas simples da vida. Não se deixa levar pelo pessimismo. E aquela alegria, que caracteriza os seguidores de Jesus, tem momentos de auge, de expressão pessoal e comunitária. É a festa, a celebração das conquistas. Nela, extravasa-se o contentamento.

Certa vez,  um time de futebol conquistou o campeonato nacional, após mais de 20 anos longe do título. A torcida, especialmente o setor mais pobres, fez uma grande festa. Multidões sairam às ruas, cantando e dançando, soltando fogos de artifício, com camisas e bandeiras. Alegria desmesurada da festa. Neste clima, um programa de TV entrevistou o técnico: “O que você está sentindo com esta vitória, após tantos anos de luta?” Ele respondeu, com um tom sério: “Vamos continuar trabalhando para conquistar o título também no próximo ano”. Ao contrário da torcida, este homem não sabia festejar. Em vez de se alegrar com o presente, já estava pensando ansiosamente no futuro. Em qual dos personagens nos vemos mais? A torcida alegre ou o técnico carrancudo?

Conclusão aberta: uma oração
Nós te damos Graças, Jesus,
Pois tu nos chamas para estarmos contigo,
na alegria missionária e na intimidade itinerante.

Contigo despertamos a cada dia,
pedindo que abras nossos lábios para proclamar teu louvor.
Por ti dedicamos o trabalho cotidiano,
desde fazer o simples café da manhã
até as importantes tarefas a realizar.

Mantém nosso coração alegre e vibrante.
Queremos sair na frente, aprimeirar.
Dá-nos ousadia, desprendimento e coragem.
Para nos envolvermos com as pessoas e os processos,
Acompanhar, frutificar e festejar.

Com a alegria da tua presença
A leveza da tua companhia
A força redentora da tua morte
A energia renovadora da tua ressurreição
Seguiremos o caminho luminoso do Reino.

Amém!

(Parte final de artigo publicado na Revista Convergência - Novembro 2014)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Encontro de Papa Francisco com movimentos sociais do mundo

Terá início nesta segunda-feira, 27 de outubro, o Encontro Mundial do Movimento Popular com o Papa Francisco, no Vaticano. O evento é realizado pelos movimentos representativos dos mais excluídos e excluídas de todo o mundo juntamente com o Pontifício Conselho Justiça e Paz e a Academia Pontifícia de Ciências Sociais, e se estenderá até a quarta-feira, dia 29. Não há registros na historia, que algum Papado tenha tomado iniciativa semelhante, a de convidar os mais diferentes movimentos populares, representativos de vários segmentos sociais, entre os trabalhadores que enfrentam mais dificuldades, para ouvi-los.

Espera-se a participação de cerca de 100 delegados de diferente procedência, que reúnem: 1) trabalhadores precarizados, temporários, migrantes e os que participam do setor popular, informal e/ou de autogestão, sem proteção legal, reconhecimento sindical nem direitos trabalhistas; 2) camponeses sem terra e povos indígenas ou pessoas em risco de serem expulsas do campo por causa da especulação agrícola e da violência; 3) pessoas que vivem nos subúrbios e assentamentos informais, os marginalizados, desalojados, os esquecidos, sem infraestrutura urbana adequada. Também participarão organizações sindicais, sociais e de direitos humanos que acompanham os processos de organização e luta desses setores sociais. Participarão pessoas de todo o mundo e, especificamente latino-americanos, do Brasil, Argentina, Haiti, Colômbia, Uruguai, México, Guatemala, Peru, Venezuela, Equador, Paraguai, Honduras, Bolívia, Nicarágua, Cuba e El Salvador.
Além disso, bispos e outros trabalhadores da Igreja de vários países foram convidados, com a finalidade de estimular o diálogo e a colaboração com a Igreja. A reunião será realizada em espanhol, francês, inglês, italiano e português. O Encontro concluirá com a promoção de uma instância internacional de coordenação entre os movimentos populares, com o apoio e colaboração da Igreja.

A programação dos três dias do Encontro:
1º dia: conhecer a realidade de hoje, as lutas e os pensamentos dos movimentos populares;
2º dia: apreciar o ensino do Papa Francisco sobre a forma de avançar juntos rumo a um autêntico desenvolvimento humano integral
3º dia:  construir e assumir compromissos concretos para coordenar as organizações dos excluídos e sua colaboração com a Igreja

Os objetivos centrais do Encontro são: compartilhar o pensamento social de Francisco, em especial os elementos aportados em sua Exortação Apostólica "A Alegria do Evangelho” e debatê-lo a partir da perspectiva dos movimentos populares; elaborar uma síntese da visão dos movimentos populares em torno das causas da crescente desigualdade social e do aumento da exclusão em todo o mundo, fundamentalmente a exclusão da terra, do trabalho e de moradia; refletir coletivamente sobre as experiências organizativas dos movimentos populares como formas de solução para as mencionadas injustiças, colocando em debate as práticas, formas de interação com as instituições e perspectivas futuras.
Também são objetivos: propor alternativas populares para enfrentar os problemas – guerra, deslocamentos, fome, miséria, desemprego, precarização, exclusão –, gerados pelo capitalismo financeiro, pela prepotência militar e o imenso poder das transnacionais, a partir do ponto de vista dos pobres, com a perspectiva de construir uma sociedade pacífica, livre e justa; e, por fim, discutir a relação dos Movimentos Populares com a Igreja, e como avançar na criação de uma instância de articulação e colaboração permanente.

Fonte: Portal ADITAL.

domingo, 7 de setembro de 2014

Libanio e os jovens

Minha contribuição no seminário "crer, interpretar e transformar. A teologia de J.B. Libanio", que aconteceu na PUC Rio.

Seminario sobre J.B. Libanio

Foi um momento especial, de reviver a pessoa e parte da obra de Libanio.

domingo, 24 de agosto de 2014

A Igreja em saída (2ª parte)

2ª Parte do roteiro didático para reflexão em grupos, da Exortação Apostólica "Alegria do Evangelho" (Evangelii Gaudium), do Papa Francisco. Capítulo 1: Igreja em saída.



sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O senso dos fiéis (Documento da Comissão Teológica Internacional)

Compartilho com você esta boa notícia. O comentário é de Christine Schenk, Irmã da Congregação de São José, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 31-07-2014, traduzido pelo IHU e compartilhado  na ADITAL.

No mês de junho, a Comissão Teológica Internacional publicou um documento inovador: "‘O Sensus Fidei’ na vida da Igreja”. Seu texto surpreendeu muita gente, pois reconhece o papel desempenhado por católicos comuns no crescimento e desenvolvimento (também conhecido por "mudança”) do ensino da Igreja ao longo da história e nos dias de hoje. O documento também valida a experiência frequente de católicos que acabam não aceitando certas doutrinas "caso não reconheçam nelas a voz de Cristo, o Bom Pastor”. Sugere também ações a serem tomadas por parte tanto dos leigos quanto do clero para resolver este impasse potencial.

Ainda que considere o magistério como tendo necessariamente a palavra final, o documento também reconhece publicamente a realidade de dissidência na Igreja através da negação do assentimento. (Cf. § 6 abaixo). Mais surpreendente ainda é que o texto diz que o próprio magistério pode ter tido um papel a desempenhar: "Em alguns casos [dissidentes, esta situação] pode indicar que certas decisões foram tomadas por aqueles que têm autoridade sem considerarem a experiência e o ‘sensus fidei’ dos fiéis, ou sem uma consulta prévia deles pelo magistério”. (..) Embora faça uma distinção cuidadosa entre a opinião pública e o "sentido dos fiéis”, o documento valoriza, não obstante, o papel da opinião pública e lista critérios úteis para os católicos avaliarem as disposições importantes necessárias para participar no "sensus fidei” [sentido da fé].

Pôr em prática o que diz o texto parece-me um desafio enorme para os leigos bem como para o clero. Porém devemos tentar, porque isto pode nos ajudar a descobrir novas estruturas que integram o "sensus fidei” nas tomadas de decisão da Igreja, até então de domínio exclusivo do clero masculino. Estruturas inclusivas novas têm o potencial de fazer nascer uma nova comunidade eclesial, uma comunidade que respeite a dignidade humana de todo o povo de Deus, desde o maior ao menor (..).

(Veja as) "Top 10”. Os números entre parênteses correspondem à citação original do documento.
1. "Deve-se recordar que (...) às vezes a verdade da fé tem sido conservada não pelo empenho dos teólogos ou pelo ensinamento da maioria dos bispos, mas no coração dos que creem” (119).

2. "O ‘sensus fidei fidelis’ [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica” (49).

3. "Em cada crente há uma interação vital entre o ‘sensus fidei’ e a vivência da fé nos vários contextos de sua vida pessoal. (...) Pôr a fé em prática na realidade concreta das situações existenciais nas quais se é colado através de relações de família, profissionais e culturais (...) capacita o crente a ver mais precisamente o valor e os limites de uma dada doutrina e a propor formas de aperfeiçoar a sua formulação. É por isso que os que ensinam em nome da Igreja deveriam dar plena atenção à experiência dos crentes, especialmente os leitos, que se esforçam para pôr em prática o ensino da Igreja” (59).

4. "O ‘sensus fidei fidelis’ capacita os crentes individuais a:
- discernir se um ensino ou prática em particular que encontram na Igreja está ou não coerente com a verdadeira fé pela qual vivem na comunhão da Igreja;
- distinguir entre o essencial e o secundário naquilo que se prega; e
- determinar e pôr em prática o testemunho de Jesus Cristo que devem dar no contexto histórico e cultural em que vivem” (60).

5. "O ‘sensus fidei fidelis’ também capacita os crentes a perceberem qualquer desarmonia, incoerência ou contradição entre um ensino ou prática e a fé cristã autêntica pela qual vivem (...). Em tais casos, os crentes resistem internamente aos ensinos ou práticas concernentes e não os aceitam nem participam deles” (62).

6. "Alertados pelo seu ‘sensus fidei’, os crentes podem negar assentimento até mesmo ao ensino de pastores legítimos caso não reconheçam nele a voz de Cristo, o Bom Pastor. (...) Exige-se uma ação apropriada de ambos os lados em tais situações. Os fiéis devem refletir sobre o ensino que é dado, esforçando-se de todo modo para compreender e aceitá-lo. A resistência, como uma questão de princípio, ao ensino do magistério é incompatível com o ‘sensus fidei’ autêntico. O magistério deve também refletir sobre o ensino (...) e considerar se ele precisa de esclarecimento ou reformulação no intuito de se comunicar, de forma mais efetiva, a mensagem essencial” (63 e 80).

7. "O ‘sensus fidei’ dá intuições quanto ao caminho certo perante as incertezas e ambiguidades da história, e uma capacidade para escutar com discernimento ao que a cultura humana e o progresso das ciências estão dizendo” (70).

8. "Os problemas surgem quando a maioria dos fiéis permanece indiferente às decisões doutrinais ou morais feitas pelo magistério ou quando as rejeitam positivamente. Esta falta de recepção pode indicar uma fraqueza ou carência de fé por parte do povo de Deus. (...) Em alguns casos, porém, pode indicar que certas decisões foram tomadas por aqueles que têm autoridade sem considerarem a experiência e o ‘sensus fidei’ dos fiéis, ou sem uma consulta suficiente deles pelo magistério” (137).

9. "Desde o começo do cristianismo todos os fiéis tiveram um papel atuante no desenvolvimento da crença cristã. (...) O que se conhece menos, e que geralmente recebe menos atenção, é o papel desempenhado pelos leigos com relação ao desenvolvimento do ensino moral da Igreja”.
A abertura da Igreja aos problemas sociais, manifesto "especialmente na carta encíclica ‘Rerum Novarum’ (1896), do Papa leão XIII, foi o fruto de uma preparação lenta na qual os ‘pioneiros sociais’ leigos – ativistas e pensadores – desempenharam um papel importante”.
O movimento de distanciamento da "condenação das teses ‘liberais’ na seção 10 do ‘Syllabus errorum’, do Papa Pio IX, para a declaração sobre a liberdade religiosa ‘Dignitatis Humanae’ (1965), do Vaticano II, não teria sido possível sem o comprometimento de muitos cristãos na luta pelos direitos humanos” (73ii e 73iii).

10. "Os católicos deveriam ter plena consciência da liberdade real de expressarem seus pensamentos, o que decorre de um ‘sentido da fé’ [isto é, o ‘sensus fidei] (...)”.

"Aqueles que exercem autoridade na Igreja terão o cuidado de garantir que haja uma troca legítima de opiniões, graças à liberdade de expressão e de pensamento, entre o povo de Deus. Mais do que isso, irão estabelecer normas e condições para que isso aconteça” (124).

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Curso de Mariologia na Espanha

Estive em El Escorial, próximo a Madrid, no final de junho e início de julho.
Colaborei na experiência formativa destinada a maristas que atuam na América Latina.
Espera-se que eles atuem futuramente nas diferentes etapas da formação inicial da Vida Religiosa.
Durante uma semana, refletimos sobre Maria na vida cristã. Um curso de mariologia de 30 horas, que articulou teologia, devoção e questões existenciais. O ponto alto foi a visita ao museu do Prado, onde vimos e comentamos alguns quadros clássicos sobre a Mãe de Jesus.
Parte do material que utilizei foi traduzido em espanhol e estará disponibilizado na rede.
Veja a foto do nosso grupo.

sábado, 24 de maio de 2014

Carta ao Papa Francisco

Compartilho com você a carta aberto de Marcelo Barros, por ocasião da visita do Papa Francisco à Terra Santa e do encontro com o Patriarca de Igreja Ortodoxa.

Querido irmão Francisco,
bispo de Roma e primaz da unidade das Igrejas e
Bartolomeu, patriarca ecumênico de Constantinopla,

 Sou um monge beneditino que procura viver a sua fé como peregrino junto aos empobrecidos da terra.  Dom Helder Camara, bispo que me ordenou padre e foi sempre para mim mestre de vida, me disse antes de morrer: “Não deixe cair a profecia!”. Nesse espírito, tomo a liberdade de lhes escrever essa carta aberta sobre a peregrinação que, nesses dias, vocês fazem à terra de Jesus.

Antes de tudo, lhes agradeço esse gesto profético. Ao retomar o encontro fraterno do papa Paulo VI com o patriarca Atenágoras em Jerusalém, dão um novo sinal de unidade entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Esse novo encontro nos recorda aquela reunião que a tradição chamou de primeiro concilio dos apóstolos de Jesus. Ali, eles decidiram abrir a Igreja aos estrangeiros (At 15). A partir dessa recordação, penso representar grande parte dos cristãos ao lhes agradecer o diálogo simples, humano e amoroso que vocês fazem questão de aprofundar com toda humanidade. Em seu tempo, foi o que viveram, cada um à sua maneira, o papa João XXIII e o patriarca Atenágoras.  

Nesse mesmo espírito, há 50 anos, Paulo VI e Atenágoras fizeram o gesto de revogar as excomunhões recíprocas que ainda existiam entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Desse modo, libertaram as Igrejas de um peso do passado que impedia os cristãos de reconhecer nos irmãos de outras Igrejas a presença do Ressuscitado. Agora, temos de ir além dessa libertação do passado. É preciso a coragem de libertar o futuro. Isso significa não só remover os obstáculos ao diálogo, mas fazer do diálogo a forma permanente do nosso modo de ser Igreja. Se, a partir dessa viagem, os senhores pensassem em escrever e assinar juntos uma mensagem ao mundo  e mesmo, quem sabe, uma encíclica sobre assuntos urgentes como a atual crise ecológica, dariam importante testemunho de unidade no serviço apostólico.

Certamente, vocês vão orar em Belém, junto ao lugar do nascimento de Jesus e em Jerusalém, no Cenáculo e no Santo Sepulcro. Se Belém nos recorda o nascimento, nos fala também da possibilidade de renascer. Esse gesto ecumênico da peregrinação realizada em comum tem o sabor de um renascimento. Retoma a proposta feita pelo papa João XXIII de voltar às fontes da nossa fé. Os cristãos e todas as pessoas de boa vontade esperam muito do Concílio Pan-ortodoxo que as Igrejas do Oriente estão preparando para 2016. Certamente a proposta do papa Francisco de restituir à Igreja Latina um caráter de maior sinodalidade pode colaborar para que esse Concílio seja uma bela e importante ocasião ecumênica e possa ajudar todas as Igrejas a retomar a práxis evangélica dos primeiros séculos do Cristianismo.

Em Jerusalém, o Cenáculo nos recorda a palavra do patriarca Atenágoras: “A única verdadeira teologia que pode guiar as Igrejas é a teologia eucarística”. (...) “O lugar onde não há separação, mas só um amor imenso, é o Cálice eucarístico, no coração de toda a Igreja”.  Seria belo ver o bispo de Roma e o patriarca de Constantinopla lavar os pés um do outro, como testemunho de qual è a fonte do ministério de todos nós, presbíteros e bispos. Um gesto assim indicaria um passo novo no caminho da unidade. Para que essa unidade visível se torne mais efetiva,  é importante que a Igreja Católica supere todas as dificuldades e decida entrar como membro normal e pleno do Conselho Mundial de Igrejas.

Ao orar com os nossos pastores diante do Santo Sepulcro, não podemos esquecer que, durante séculos e mesmo em incidentes recentes, muitas vezes, a pedra do Santo Sepulcro tem sido transformada em pedra de escândalo. O próprio lugar da doação da vida se tornou frequentemente motivo de cruzadas, violências e guerras. Por isso, é urgente uma profecia nova. Mesmo se o sepulcro vazio continua sendo para nós um lugar de testemunho, cremos que Jesus Ressuscitado nos espera não na pedra do sepulcro, mas nas Galileias do mundo. E precisamos encontra-lo na comunhão com as vítimas das violências de hoje. Pensemos concretamente no povo palestino, sob permanente ocupação militar e a cada dia sofrendo novas formas de colonização por parte do Estado de Israel. É importante que, em comunhão com algumas comunidades judias que guardam no coração a paz e a não violência, os pastores cristãos ajudem o mundo a levantar o véu que encobre a realidade terrível e opressora que sofre o povo palestino.

Bendito seja Deus por essa viagem que os torna novos peregrinos de Emaús que voltam a Jerusalém. De todas as Igrejas, muitos cristãos se unem a vocês. Sentimos também o coração queimar dentro do peito ao reconhecer o Ressuscitado nas estradas do mundo. As perguntas que, hoje, como pastores, vocês fazem ao peregrino Ressuscitado interpelam a todos/as nós. O modo como, juntos, interpretam as Escrituras trazem uma luz nova a nossos olhos. Na esperança de repartir com todas as Igrejas o pão da comunhão, oramos juntos com vocês a invocação evangélica: “Senhor, fica conosco, porque já anoitece”.
Na alegria de nossa comunhão, confio-me às suas orações e peço que abençoem o irmão menor Marcelo Barros.                             

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A coragem de se alegrar

Trechos de Homilia do Papa Francisco durante a oitava da páscoa.

O Evangelho narra a aparição de Jesus Ressuscitado aos discípulos que, diante da sua saudação de paz, em vez de ficarem loucos de alegria, ficam “cheios de medo”, pois acreditam ter visto “um fantasma”. Cristo trata de fazê-los compreender que é real o que veem, uma realidade tangível: de fato, convida-os a tocarem seu corpo, pede comida e água. O Filho do Senhor deseja transmitir-lhes a alegria da Ressurreição, a alegria da sua presença entre eles. Mas eles pela alegria não acreditaram, não podiam acreditar, porque tinham medo da alegria.
Esta é uma doença dos cristãos. Temos medo da alegria. É melhor pensar: ‘Sim, sim, Deus existe, mas está lá; Jesus ressuscitou, mas está lá’. Um pouco de distância. Temos medo da proximidade de Jesus, porque isso nos dá alegria. E assim se explicam os muitos cristãos de funeral, não? Aos quais parece que a vida é um funeral contínuo. Preferem a tristeza, e não a alegria. Movem-se melhor não na luz da alegria, mas nas sombras, como aqueles animais que só conseguem sair à noite, mas à luz do dia não veem nada. Como os morcegos. E com um pouco de senso de humor, podemos dizer que existem ‘cristãos morcegos’, que preferem as sombras à luz da presença do Senhor”.

Mas Cristo, com a sua Ressurreição nos dá a alegria: a alegria de ser cristãos; a alegria de segui-lo de perto; a alegria de caminhar nas estradas das Bem-aventuranças; a alegria de estar com Ele. E nós tantas vezes ficamos perturbados ou repletos de medo, acreditamos ver um fantasma (..) Você fala com Jesus? Você diz a Ele: ‘Eu acredito que o Senhor está vivo, que ressuscitou, que está perto de mim, que não me abandona’? A vida cristã deve ser isso, um diálogo com Jesus, porque – isso é verdade – Jesus está sempre conosco, está sempre com os nossos problemas, com as nossas dificuldades, com as nossas boas obras.

Quantas vezes os cristãos não somos felizes porque temos medo! Cristãos que foram “derrotados” na Cruz. Na minha terra há um ditado que diz: ‘Quando alguém se queima com leite quente, depois, quando vê uma vaca leiteira, chora’. Estes se queimaram com o drama da cruz e disseram: ‘Não, vamos parar por aqui; Ele está no Céu; mas tudo bem, ressuscitou, mas que não venha outra vez aqui porque não aguentaremos’.

Peçamos ao Senhor que faça com todos nós o que fez com os discípulos, que tinham medo da alegria: que abra a nossa mente e nos faça entender que Ele é uma realidade viva, que Ele tem corpo, que Ele está conosco e nos acompanha e que Ele venceu. Peçamos ao Senhor a graça de não ter medo da alegria.”
Fonte: Vatican Insider, 24-04-2014. Tradução: André Langer. Publicado no Brasil pelo IHU.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Páscoa, simplesmente

Senhor Jesus
Minha força e meu fracasso és tu
Minha herança e minha pobreza
Tu Minha justiça, Jesus.

Minha guerra e minha paz
Minha livre liberdade!
Minha Morte e minha Vida
Tu, Palavra dos meus gritos
Silêncio da minha espera

Testemunho dos meus sonhos
Cruz da minha Cruz!
Causa da minha Amargura
Perdão do meu egoísmo
Crime do meu processo
Juiz do meu pobre pranto
Razão da minha Esperança Tu!

Minha Terra Prometida és tu...
Páscoa da minha Páscoa
Nossa Glória para sempre
Senhor Jesus!

Dom Pedro Casaldáliga

terça-feira, 15 de abril de 2014

Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso!” (Lc 23,43)

O teu coração sem portas, sempre aberto,
que fácil é roubar-te o Paraíso!
Ladrões, todos nós,
Depredadores do cosmos, da natureza e da vida,
somente podemos salvar-nos assaltando-te, ó Cristo.
Em nosso “hoje” cotidiano,
Essa Misericórdia que jorra no teu sangue...

O teu suave assobio de Bom Pastor nos chama.
O teu coração reclama, impaciente,
a todos os marginalizados,
a todos os proibidos.

Tu nos conheces bem, e nos consentes.
Irmão de cruz e cúmplice de sonhos,
companheiro de todos os caminhos.
tu que és o Caminho e a Chegada!
(Dom Pedro Casaldáliga)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Inovação na Gestão Eclesial da Escola Católica (ANEC)

Conferência proferida no Seminário das Mantenedoras da ANEC (Associação Nacional da Educação Católica). Nova versão, atualizada e ampliada, do material apresentado no Congresso de Gestão Eclesial.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Atitudes básicas dos evangelizadores

Na Carta Apostólica “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco aponta cinco atitudes básicas dos evangelizadores e da comunidade eclesial: tomar a iniciativa (primeirear), envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar (EG 24). Veja o texto e reflita com seu grupo.

(1) Ir na frente, tomar a iniciativa (primeirear)
A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!

(2) Envolver-se
Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se». Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: «Sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 17). Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro de ovelha», e estas escutam a sua voz.

(3) Acompanhar
Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar». Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações.

(4) Frutificar
Fiel ao dom do Senhor, a comunidade evangelizador sabe também «frutificar». Ela mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reacções lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora.

(5) Festeja
Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.
(Fonte: Papa Francisco, Alegria do Evangelho, nº 24)

Para refletir em grupo: Quais atitudes estamos cultivando na evangelização? Qual delas devemos desenvolver?

domingo, 2 de fevereiro de 2014

João Batista Libanio, grande mestre

Faleceu no dia 30 de janeiro de 2014 o Padre João Batista Libanio.
Poderia relatar seu longo currículo de:
- excelente professor de teologia,
- brilhante escritor de inúmeras obras,
- eficiente comunicador,
- disputado orientador de pós-graduandos,
- cativante evangelizador,
- bem-humorado e brincalhão,
- grande intelectual que passeava por distintas áreas do conhecimento,
- pensador que abriu caminhos novos na pastoral e na teologia,
- homem de extraordinária capacidade de síntese,
- místico,
- formador de muitas gerações de leigos, religiosos e presbíteros...

Mas hoje somente quero dizer que ele foi para mim (e continua sendo) o grande mestre, que me introduziu nas sendas de teologia, de maneira fascinante. Ensinou-me a pensar e a escrever, desenvolveu a minha capacidade de comunicação.

A ele, minha gratidão e respeito. Obrigado, mestre Libanio!